Entendendo o básico:
Provavelmente você já ouviu falar da ideia de que para perder peso basta “comer menos e se exercitar mais”. Parece simples, certo? Mas para muitas pessoas, essa fórmula não leva ao emagrecimento sustentável. E por quê? A verdade é que o controle de peso vai muito além de contar calorias e manter-se ativo. O verdadeiro maestro desse processo complexo é o cérebro.
Vamos direto ao ponto: o cérebro é o centro de comando que controla a fome, a saciedade e, em última análise, o peso corporal. Ele recebe e processa uma série de sinais enviados por todo o corpo, ajustando nossos sistemas para manter a chamada “homeostase energética.” Em outras palavras, o cérebro tenta manter nosso peso em uma faixa estável – exceto quando algo altera esses sinais. E é aqui que as coisas começam a ficar complicadas.
O Papel do Hipotálamo: Nosso Controlador Central
O hipotálamo é a área do cérebro que regula a ingestão de alimentos e o gasto energético. Nele, vários núcleos recebem informações do trato gastrointestinal e do tecido adiposo, como a quantidade de calorias consumidas e o volume de gordura armazenada no corpo. Hormônios como a leptina, que indica saciedade e é produzida pelas células de gordura, e a grelina, que é liberada pelo estômago e aumenta a fome, enviam mensagens ao hipotálamo.
O que acontece é que, ao receber esses sinais, o hipotálamo toma decisões: se há energia suficiente, ele pode inibir a fome e aumentar o gasto energético. Caso contrário, ele reduz o gasto energético e aumenta a sensação de fome. Contudo, em pessoas com excesso de peso, esse sistema pode perder a sensibilidade. Ou seja, pessoas com alto índice de massa corporal frequentemente têm um sistema de fome e saciedade “desregulado,” dificultando a sensação de saciedade e tornando a fome uma constante.
Sistema de Recompensa: Mais do que Sentir Satisfação
Mas o controle do peso não se resume ao hipotálamo. O cérebro também regula nosso peso corporal através de algo chamado sistema de recompensa, que envolve áreas corticais e subcorticais, como o núcleo accumbens. Esse sistema influencia a motivação e o prazer que sentimos ao comer, principalmente através da dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa.
Esse sistema faz com que busquemos alimentos que proporcionem prazer, especialmente aqueles ricos em açúcar, gordura e sal. E, ao longo do tempo, o cérebro associa esses alimentos a sentimentos de recompensa, gerando um ciclo de dependência. Isso explica por que, muitas vezes, acabamos comendo não por fome, mas pela busca de satisfação.
Além da dopamina, neurotransmissores como a serotonina, noradrenalina e acetilcolina também têm papéis cruciais. A serotonina, por exemplo, promove saciedade e reduz o desejo por doces. A noradrenalina, liberada em situações de estresse, pode afetar o apetite e os níveis de energia. Assim, em momentos de estresse, algumas pessoas perdem o apetite, enquanto outras se sentem compelidas a comer. Esse quadro é complexo e ilustra a forte relação entre o cérebro e o comportamento alimentar.
Disfunção do Controle Inibitório: A Luta Contra os Impulsos
Muitas pessoas com excesso de peso enfrentam uma condição chamada “disfunção do controle inibitório,” o que significa que a capacidade de resistir a impulsos e controlar desejos alimentares fica comprometida. Essa disfunção se relaciona a baixos níveis de noradrenalina no córtex pré-frontal, uma área do cérebro responsável pelo controle de impulsos e tomada de decisões. Em um ambiente moderno cheio de estímulos, onde há alimentos ultraprocessados em abundância, essa disfunção torna-se um grande desafio para quem tenta perder peso.
O controle inibitório é fundamental para um comportamento alimentar saudável, ajudando-nos a resistir a alimentos pouco saudáveis e a focar em uma alimentação equilibrada. Quando ele falha, somos mais suscetíveis a padrões alimentares impulsivos e prejudiciais, o que torna o emagrecimento sustentável praticamente impossível sem intervenções para reequilibrar esses sistemas.
Como o Ambiente Moderno Complica o Controle do Peso
O ambiente moderno está repleto de estímulos que desafiam nossos sistemas de controle de peso. Ao longo da evolução, o ser humano adaptou-se para lidar com períodos de escassez e atividade física intensa. Nossos corpos foram moldados para sobreviver em condições de baixa disponibilidade de alimentos, mas, hoje, vivemos em um ambiente onde a comida está constantemente ao nosso alcance e o esforço físico é opcional.
Nesse contexto, os mecanismos cerebrais de controle de peso ficam sobrecarregados. Mesmo quem tenta manter uma alimentação equilibrada enfrenta dificuldades para controlar o peso em um mundo onde os alimentos ultraprocessados dominam o cenário. Esse quadro evidencia por que perder peso e mantê-lo é tão desafiador – o corpo reage ao déficit calórico reduzindo o metabolismo e aumentando a fome.
O cérebro tenta manter o peso dentro do chamado “set point,” que pode ser elevado em pessoas com histórico de ganho de peso. Quando alguém tenta emagrecer, o corpo reage como se estivesse em perigo, buscando retornar ao peso anterior.
Medicamentos: Ferramentas para o Controle de Peso Sustentável
Diante da resistência biológica do cérebro à perda de peso, a ajuda de medicamentos é essencial para muitos. Substâncias que modulam neurotransmissores e hormônios, como as incretinas GLP-1 e GIP, ajudam a restaurar o equilíbrio. O GLP-1, por exemplo, promove saciedade e regula o açúcar no sangue, reduzindo o apetite e melhorando o controle glicêmico. A tirzepatida, uma medicação recente, age tanto nos receptores de GLP-1 quanto de GIP, oferecendo saciedade prolongada.
Uma combinação interessante é a bupropiona associada à naltrexona, que atua diretamente no controle inibitório e reduz o apetite. A bupropiona eleva os níveis de dopamina e noradrenalina, facilitando o controle de desejos, enquanto a naltrexona reduz a recompensa exagerada que sentimos ao consumir alimentos hipercalóricos. Esse tratamento torna o controle do peso mais sustentável, agindo tanto na saciedade quanto no impulso alimentar.
O Caminho para um Emagrecimento Sustentável
Para muitas pessoas, emagrecer de forma duradoura sem medicamentos é extremamente difícil. Os medicamentos não são atalhos; eles agem diretamente no centro de controle do peso, regulando circuitos que, sozinhos, não conseguem lidar com o ambiente moderno.
Conclusão: O Cérebro, o Verdadeiro Maestro
O cérebro é o maestro que organiza cada sinal e resposta alimentar. Ao integrar medicamentos que modulam esses sistemas, ajudamos a restabelecer o controle. Afinal, o controle de peso não se resume a força de vontade; trata-se de entender o papel crucial do cérebro e os desafios de viver em um ambiente moderno.