Commotio Cordis: Bolada no Peito, um Fator Subestimado na Morte Súbita de Crianças e Adolescentes?

Recentemente, o caso de um jovem goleiro de 16 anos, que recebeu uma bolada no peito durante uma partida de futebol e sofreu uma parada cardíaca fatal, trouxe à tona a discussão sobre o commotio cordis. Essa condição, embora rara, é extremamente grave, caracterizada por uma arritmia fatal provocada por um impacto direto no tórax. A morte desse jovem é uma perda profundamente comovente, que nos lembra da fragilidade da vida e do impacto devastador que um evento tão inesperado pode causar na família, nos amigos e na comunidade esportiva. É impossível não sentir tristeza e solidariedade diante de uma tragédia como essa, que reforça a urgência de medidas preventivas para evitar que casos semelhantes ocorram no futuro.

Incidência e Contexto Esportivo

Nos Estados Unidos, conforme um estudo publicado por Peng e colaboradores em 2023, o commotio cordis é identificado como a terceira principal causa de morte súbita em jovens atletas, ocorrendo predominantemente em eventos esportivos organizados. Nessa pesquisa, mais de 75% dos casos estavam associados a esportes como beisebol e lacrosse, nos quais bolas rígidas frequentemente causam impactos diretos no tórax. Já em países como o Reino Unido, segundo análise de Cooper et al. realizada em 2019, a condição também ocorre em esportes como futebol, críquete e rugby, evidenciando que o risco não está limitado a um tipo específico de prática esportiva.

Fatores de Risco e Vulnerabilidade

Conforme analisado por Shore e colegas em 2024, a maior vulnerabilidade de jovens ao commotio cordis deve-se à flexibilidade do tórax, que facilita a transmissão de energia ao coração, aumentando o risco de arritmias fatais. Essa pesquisa, que acompanhou 64 casos nos Estados Unidos, destacou que mais da metade das vítimas não sobreviveu, muitas vezes devido à demora na intervenção emergencial. O estudo também aponta que a maioria dos casos ocorre em atletas do sexo masculino, especialmente adolescentes, devido à combinação de fatores anatômicos e contextos esportivos.

Prevenção e Educação:

No Brasil, algumas escolas de futebol já adotam práticas preventivas, como, por exemplo, permitir que goleiros sejam de maior idade em relação aos jogadores de linha. Essa medida busca proteger os goleiros mais jovens ao minimizar a probabilidade de receberem chutes mais potentes de atletas de maior força física. Isso reduz significativamente o impacto das boladas e, consequentemente, os riscos de lesões graves, incluindo o commotio cordis. Além disso, essa prática é uma tentativa de alinhar as condições de jogo com os limites físicos de cada faixa etária, promovendo um ambiente esportivo mais seguro. Estudos indicam que estratégias como essa têm potencial para melhorar a segurança nos esportes, embora a quantidade de dados específicos ainda seja limitada.

Além disso, conforme a análise de Peng et al., é essencial que professores e educadores físicos sejam treinados para reconhecer paradas cardíacas e agir rapidamente. Esse treinamento deve incluir o uso de técnicas de RCP (ressuscitação cardiopulmonar) e o manuseio correto de desfibriladores externos automáticos (DEAs), dispositivos cuja presença em centros esportivos pode aumentar consideravelmente as chances de sobrevivência de vítimas de paradas cardíacas súbitas.

Custo vs. Impacto Social

A instalação de DEAs é frequentemente destacada como uma medida essencial para a segurança esportiva, sendo um recurso que pode literalmente significar a diferença entre a vida e a morte em situações críticas. Embora a implementação em larga escala desses dispositivos envolva custos consideráveis, o impacto positivo supera amplamente os desafios financeiros. Cada vida salva, especialmente a de uma criança ou adolescente, representa não apenas um benefício inestimável para a família, mas também uma proteção contra os profundos impactos psicológicos e emocionais que uma perda trágica pode causar. Para os pais, a perda de um filho não é apenas insuportável, mas reverbera de forma devastadora em todo o círculo familiar e na comunidade.

Promover um ambiente esportivo verdadeiramente seguro requer a combinação de múltiplas estratégias. Isso inclui o treinamento adequado de profissionais para responder a emergências, a criação e o cumprimento rigoroso de protocolos de prevenção e a disponibilização de recursos de emergência, como os DEAs. Essas ações não apenas minimizam os riscos, mas também fomentam uma cultura de segurança e cuidado no esporte, garantindo que jovens atletas possam praticar suas atividades com maior proteção contra eventos trágicos e evitáveis.


                                                                                    ROGÉRIO FORTES LOBATO CRM-SP: 109.577 

                                                                                           Cardiologia- RQE- 49.278 I RQE- 49.376                                                                                                                                                                                                                                                 

                                                                  

Compartilhe essa matéria:

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Logo fundo transparente_4
Cada coração tem sua história. O meu trabalho é ouvir, entender e cuidar.
Entrar em contato
Telefone/WhatsApp:

(12) 3634-9900

ENDEREÇOS

Taubaté: Av. Juscelino Kubitschek de Oliveira, 71 - SP.

Caçapava: Rua Cap. Carlos de Moura, 385 - Vila Pantaleão, SP, 12280-050

ARÉAS DE ATUAÇÃO

Clínica Médica
Cardiologia
Ecocardiografia

© 2023 Rogerio Lobato Cardiologista ● Criado com ❤️​ pela Agência Logo Direito.